Psicografando

Postado por marcio lelis , quinta-feira, 24 de janeiro de 2013 21:11



 autopsicografia
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

27/11/1930 Fernando Pessoa


Psicografando

O poeta, sim, é dos homens o mais cretino.
Finge ser tão forte e altivo
E no fundo nada mais é que uma criança...
Forte e altiva;

Se sente dor finge não senti-la
Ao dizer “como dói à dor que sinto”;
E ao amar – sorte de poeta –
Finge não amar sinceramente,
Quando no fundo já se perdeu de si mesmo;

E ao que leem o que escreve,
Na sua mentira se encontram bem!
Humanidade falsa e metida...
Na dor do poeta se acham melhores
Por não assumirem que são!

E, assim segue o rio, o riacho, o pingo,
O poeta sozinho e sua taça de vinho,
O som pesado dos incompreendidos,
E os homens de bem, fortes e poderosos,
Escondidos nas falsas verdades
Que chamamos de mãe sociedade;

perdoe-me mestre Fernando, mas não resisti ao vinho!

abs do Lelis

A partida do amor

Postado por marcio lelis , 20:50



E lá se foi o amor
Pela porta que deixei aberta,
E se foi, se foi, se foi,
Calado como quem não tem nada a dizer,
Distraído como quem tem algo a esquecer;

Se foi e deixou o vazio
Deixou o buraco, o furo,
Um túnel sem luz na saída;

Se foi e deixou o lugar,
A cama vazia,
Um travesseiro a menos,
Um prato só na mesa;

Tudo passa, eu sei,
Passa, passa e vai embora;
Vai como vento sutil,
Vai e dorme na plenitude do ar;

Tudo passa e fica o espaço,
Apaga o elo e fica o frio;
Lá se foi o amor;

Amor meu, amor nosso;
Lá se foi o amor,
E até agora nada.

Secreto

Postado por marcio lelis , 20:38



Vejo nos olhos sagrados do tempo,
Tudo o que nunca foi
E nem será um dia,
Como as gotas da chuva que caem lá fora.

Talvez eu seja
Apenas uma projeção
Do que pensei ser...
Ou talvez não;

As gotas da chuva
Caem tão serenas
Uma a uma,
Como as folhas no outono;

O silêncio é uma arma mortal
Contra a ilusão,
E não seria segredo
Se eu assistisse sozinho
Até o que não quero ver.


09-01-08
 


Galera, revirando o báu achei esse tesouro... rs
estou de volta.
abs do lelis

pensamentos

  • "não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria" Machado de assis
  • "não se deve fugir de uma fraqueza e sim lutar contra ela " Robert louis stevenson
  • "a vida é feita de segundos e detalhes" Jonas elias de almeida

agradecimentos

obrigado pela visita;

volte sempre que desejar...



um forte abraço...

Márcio Lelis